35. O grito de revolta de Cidália em Ganhar a Vida
É sem qualquer tipo de obrigação patriótica que incluo neste espaço a primeira cena referente a um filme português. Considero João Canijo o melhor realizador português em actividade, ou pelo menos o que aprecio mais, e o cineasta que melhor soube potenciar o talento de Rita Blanco.
Ganhar a Vida (2001) conta a história de Cidália (Rita Blanco), uma emigrante portuguesa em França que perde o seu filho e, perante a indiferença das autoridades e da resignação da comunidade portuguesa, resolve questionar tudo. O filme tem o dom de descrever a falsa integração e a ausência dum sentimento de pertença dos emigrantes portugueses e que resulta numa comunidade isolada, fechada dentro de inúmeras pequenas associações, resignada aos factos. De repente tudo é colocado em causa quando Cidália exterioriza a sua revolta.
Estes emigrantes já não têm nação porque nunca vão ser cidadãos plenos do país para onde emigraram nem nunca mais vão conseguir estar plenamente integrados no país de onde vieram, mas Cidália não aceita que o mesmo aconteça à geração seguinte. E aqui é que começa o verdadeiro problema, ou seja, na segunda geração. Como Cidália diz “os nossos filhos nasceram na França, falam francês, esta é a terra onde eles nasceram e é a terra que a gente escolheu para eles crescerem”. A segunda geração já não se resigna porque não entende porque é que têm que ser cidadãos de segunda. Todo este contexto é retratado de forma singular e realista neste filme (ver crítica completa ao filme aqui).
A sequência do filme que quero destacar começa com um espectáculo de música popular (com a participação de Romana, que encaixa que nem uma luva neste contexto) e com a subida de Cidália ao palco onde, segura e emocionada, profere as palavras que reproduzo de seguida:
“Eu queria só dizer uma coisa! A gente tá aqui no que é nosso. É isto que eu queria dizer! Meu filho foi morto mas parece que ninguém se importa. Ninguém quer saber. É como se não tivesse acontecido nada. Mas eu acho que vocês deviam de importar e deviam querer saber. Deviam querer fazer qualquer coisa. A gente vive aqui, a gente não vive noutro lado. A gente tá aqui no que é nosso. E os nossos filhos nasceram na França, falam francês, esta é a terra onde eles nasceram e é a terra que a gente escolheu para eles crescerem. É isto que eu queria dizer!”
Estes emigrantes já não têm nação porque nunca vão ser cidadãos plenos do país para onde emigraram nem nunca mais vão conseguir estar plenamente integrados no país de onde vieram, mas Cidália não aceita que o mesmo aconteça à geração seguinte. E aqui é que começa o verdadeiro problema, ou seja, na segunda geração. Como Cidália diz “os nossos filhos nasceram na França, falam francês, esta é a terra onde eles nasceram e é a terra que a gente escolheu para eles crescerem”. A segunda geração já não se resigna porque não entende porque é que têm que ser cidadãos de segunda. Todo este contexto é retratado de forma singular e realista neste filme (ver crítica completa ao filme aqui).
A sequência do filme que quero destacar começa com um espectáculo de música popular (com a participação de Romana, que encaixa que nem uma luva neste contexto) e com a subida de Cidália ao palco onde, segura e emocionada, profere as palavras que reproduzo de seguida:
“Eu queria só dizer uma coisa! A gente tá aqui no que é nosso. É isto que eu queria dizer! Meu filho foi morto mas parece que ninguém se importa. Ninguém quer saber. É como se não tivesse acontecido nada. Mas eu acho que vocês deviam de importar e deviam querer saber. Deviam querer fazer qualquer coisa. A gente vive aqui, a gente não vive noutro lado. A gente tá aqui no que é nosso. E os nossos filhos nasceram na França, falam francês, esta é a terra onde eles nasceram e é a terra que a gente escolheu para eles crescerem. É isto que eu queria dizer!”
2 comentários:
E eu vou dizer uma coisa que ainda vai valer a minha crucificação em público. Não gostei do filme, não admiro muito o João Canijo,abomino a Rita Blanco, mas quando a Romana apareceu a cantar a sua música, lembro-me que estava no King (ou no Monumental, agora não tenho a certeza), e fiquei muito sensibilizado, eh, eh, eh!
Shinobi,
Considera-te crucificado ;), hehe. Agora mais a sério, considero João Canijo do melhor que nós temos e, ainda mais que este filme, adorei Noite Escura. Quanto à Rita Blanco compreendo que seja complicado gerir uma carreira em Portugal mas há bons exemplos de representação desta actriz na Sétima Arte.
Escrevi em tempos, no Filho de 25 de Abril, que "este filme é melhor que o somatário das notícias dos telejornais para compreender o que se passa em Paris nos dias de hoje" e que "João Canijo consegue fazer-nos compreender não o como mas o porquê da actual tensão nas comunidades emigrantes nos subúrbios de Paris". Mantenho o que disse, ou seja, acho que nunca a angústia do emigrante (no nosso caso continuo a considerar que os nossos emigrantes são quem melhor define a nossa identidade) esteve tão bem retratada.
A inclusão da Romana (podia ser outra/o ou até uma boa posta de bacalhau para atingir o mesmo efeito, hehe) neste contexto está muito bem conseguida o que obviamente não muda a minha opinião sobre a qualidade da sua música, hehe.
Abraço,
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