segunda-feira, 18 de junho de 2007

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Nunca a expressão "tensão de cortar à faca" foi tão bem filmada como neste filme de 1957, do mestre Sidney Lumet. Doze jurados dentro de uma sala reflectindo no veredicto a dar a um presumível assassino. Onze deles cheios de quase certezas sobre a culpabilidade do mesmo. Um deles, Henry Fonda num dos melhores papéis da sua carreira, com muitas dúvidas sobre todo o caso. O filme é, para mim, um tratado sobre a natureza humana, sobre como deixamos que todos os nossos preconceitos nos toldem a objectividade, a um ponto em que não conseguimos discernir o que é verdade e o que é mentira. Todo o filme pode ser considerado uma "cena" memorável da sétima arte, mas uma vez que há que escolher, escolho a cena em que o jurado interpretado por Lee J. Cobb faz uma derradeira tentativa de defender a sua opinião e acaba por decidir o veredicto.

[Sugestão e texto do Nuno - Espaço Cinzento]

7 comentários:

Ricardo disse...

Nuno,

Este filme é mesmo memorável, perdi a conta da quantidade de vezes que o vi. Não vou comentar uma vez que me revejo por inteiro na tua descrição.

Obrigado por mais esta participação que muito me honra.

Abraço,

Nuno Guronsan disse...

Como sabes, é sempre um prazer, até porque usualmente os nossos gostos até são convergentes.

Um abraço.

Anônimo disse...

Vi este filme há muitos anos, creio que no cinema Império, actualmente um templo de uma qualquer religião.

Nunca mais esqueci este filme e também acho que é uma das melhores interpretações de Henry Fonda.

Mas o filme é curioso também por outra razão.

Os americanos usam e abusam do espectáculo da justiça quer no cinema quer na TV.

Mas há dois tipos de personagens fora deste espectáculo, os juízes e o jurí.

É muito raro um filme em que o juíz tem qualquer papel além de estar lá no trono a ver tudo e a fazer uma ou outra observação, mais ou menos judiciosa.

o "Justice for all" com Al Pacino em que há um juíz rigorosissimo e, nas horas vagas sado masoquista e violador, é uma excepção.

Neste filme aprecio principalmente o discurso final de Al Pacino em que este subverte todo o sistema.

Quanto ao jurí são geralmente doze figurantes, sem nome, nem personalidade.

Creio mesmo que o único filme que me lembro em que o jurí é a personagem principal, por acaso até a única é exactamente este memorável "Doze homens em fúria".

Ricardo disse...

Raio,

É bom ter a tua presença por estes lados.

Sobre o filme em questão estou absolutamente de acordo, é uma das melhores interpretações do Henry Fonda e o filme está muito bem conseguído na forma como desvia os olhares do que é tradicional mostrar, ou seja, concentra-se no júri.

Quanto a Justice for All confesso que já não vejo o filme há muito tempo (mesmo muito) e fiquei com vontade, depois do teu texto e tratando-se dum dos meus actores favoritos, de rever.

Abraço,

Anônimo disse...

Caro Ricardo,

Revi o "Justice for all" outro dia num dos canais da TV Cabo. Há muito tempo que o não via.

Para mim é um filme memorável, um filme que mostra que os Estados Unidos têm a "best justice money can buy" num comentário feliz, feito já não me lembro por quem, à absolvição do O.J. Simpson.

A interpretação do Al Pacino neste filme é fenomenal mas, o que mais me agradou foi o fim do filme, a representação do Al Pacino no discurso final, como referi, é uma das suas melhores representações além de totalmente inesperada.

Mas praticamente todos os personagens do filme são memoráveis, além do Al Pacino, advogado pobre e com problemas de consciência, tal como o seu colega que quase que enlouquece, o procurador que se está nas tintas para a justiça e que só se preocupa com a sua carreira política, o juíz integro, sado masoquista e violador, o outro juíz, amigo do Al Pacino, com tendências suicidas, a própria namorada, talvez o personagem mais fraco que enquanto dormia com o Al Pacino fazia parte de uma comissão que o investigava, etc.

E o próprio script do filme que é um dos scripts mais criticos para a justiça americana que vi até à data.

Se me abandonassem numa ilha deserta com uma TV, um leitor de video, uma central solar e dez videos, este, juntamente com o Apocalipse Redux e o Spartacus do Stanley Kubrick, estariam certamente entre os dez.

Aliás, Spartacus creio ser uma das obras do Stanley Kubrick menos citadas e, para mim, é uma das melhores.
O filme e o livro de Howard Fast que conheci porque depois de ver o fime o fui adquirir.

Embora o teu blog seja sobre cinema não quero deixar a oportunidade de chamar a atenção sobre o Spartacus de Howard Fast, um dos melhores livros que li e o único livro que me soube explicar o que era a Roma antiga e como funcionava uma sociedade baseada na escravatura.

Um abraço

Ricardo disse...

Caro Raio,

Com a tua devida autorização, que fico a aguardar, vou publicar parte do teu comentário num post sobre uma cena memorável do filme que referiste. Queres sugerir uma fotografia?

Tenho uma curiosidade, porque preferes o Apocalipse Redux ao Apocalypse Now?

Abraço,

Anônimo disse...

Caro Ricardo,

Como já te disse, claro que podes publicar.
Vou à procura de uma foto.

Prefiro o Redux por causa da cena da plantação francesa que foi totalmente cortada no original.

Tenho um apego muito especial a este filme porque eu também já fui militar numa guerra (Angola) e, praticamente todos os filmes de guerra me parecem absurdos, sem nada a ver com a minha experiência.

Creio mesmo que a única excepção é este filme.

É que numa guerra o que se pretende é provocar o caos nas linhas inimigas e a introdução do caos dá direito a tudo, desde o oportunista que repara que não há melhor sítio para fazer negócios e enriquecer do que a guerra, até ao puro que leva tudo a sério e quer ganhar a guerra sozinho.

E, no meio disto tudo, civis e mesmo militares que se comportam como se não houvesse guerra e como se o estado de coisas em que estão inseridos fosse continuar para sempre. É o caso da plantação francesa...

Um abraço