domingo, 27 de maio de 2007

27. O Sacrifício de Ripley







Alien 3 (1992 - David Fincher) é um regresso às origens, ao tipo de filmes que Ridley Scott idealizou (até Giger voltou a participar na concepção do Alien). É o mais negro dos três filmes mas problemas na produção impediram que o filme rivalize com o de Ridley Scott. Destaco a cena final do filme pelo seu simbolismo. Ellen Ripley (Sigourney Weaver), com uma rainha dentro de si, recusa a promessa de salvação por parte da "companhia" e sacrifica-se para tentar acabar com a espécie que a atormenta (Ripley chega a dizer ao Alien: "You've been in my life so long, I can't remember anything else"). Durante a queda em direcção à fornalha o Alien sai com violência do seu peito e, num gesto quase maternal, Ripley aconchega o recém-nascido e mantém-no junto a si rumo ao inevitável destino final. A forma gentil mas segura como Ripley trata o responsável pela sua morte nos momentos que antecedem a morte de ambos, numa cena de enorme duplicidade que mistura sentimentos de ódio e instintos maternais, é memorável.

sábado, 26 de maio de 2007

26. Ripley armada até aos dentes



Newt: My mommy always said there were no monsters - no real ones - but there are, aren't there?
Ripley: Yes, there are.
Newt: Why do they tell little kids that?
Ripley: Most of the time it's true.

Aliens (1986 - James Cameron) pouco herda de Alien (1979 - Ridley Scott). Se o filme de Ridley Scott é um filme de terror e suspense este, o de James Cameron, é um filme de acção, menos cerebral e complexo. As emoções são simples e as personagens menos ambíguas. Mas não deixa de ser um excelente filme de acção.

Destaco a cena em que Ripley (Sigourney Weaver), reinventada como heroína de acção numa antecâmara do que Cameron faria com Linda Hamilton em T2, arrisca tudo para salvar a menina (Newt - Carrie Henn) que a tinha adoptado como mãe. Armada até aos dentes Ripley entra no covil da Rainha (outra invenção de Cameron, desta vez sem o toque de Giger na construção do aspecto do Alien) e, com uma crueldade que só uma mulher consegue ter com outra mulher, resgata da influência da Rainha Newt, deixando um rastro de destruição imparável. A certa altura Ripley dispara "Get away from her, you bitch!".

25. O Alien a sair do peito de Kane







Considero o primeiro Alien (1979 - Ridley Scott) o melhor filme de terror alguma vez feito. É um filme com uma atmosfera bem conseguida e assustadora, com personagens com densidade e ambiguidade e com um argumento criativo e cerebral. Há uma cena que quero destacar e que, da primeira vez que vi, achei arrepiante. Kane (John Hurt), após estar em coma com um Alien na sua primeira fase de gestação colado à face, acorda sem sinal do Alien. Bem disposto reúne-se com os companheiros do cargueiro Nostromo e, com apetite, devora a comida como se comesse por dois. De repente engasga-se e numa espiral de dor contorce-se até que o peito explode e o seu corpo cede repentinamente. Segue-se um silêncio que mostra a consternação na face de todos e, de dentro do seu peito, sai o Alien que contempla o seu mundo novo como se de um bebé se tratasse.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

24. O derradeiro sacrifício


Não é fácil escolher uma cena desta trilogia - a do Senhor dos Anéis - que já ficou, de forma merecida, para a história do cinema. Escolhi o prelúdio do fim (Return of the King (2003) - Peter Jackson) quando Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin), exaustos, escalam o "Mount Doom", em direcção à fornalha que criou e podia destruir o anel. O diálogo e a imagem dizem tudo sobre este derradeiro sacrifício.

Sam: Do you remember the Shire, Mr. Frodo? It'll be spring soon. And the orchards will be in blossom. And the birds will be nesting in the hazel thicket. And they'll be sowing the summer barley in the lower fields... and eating the first of the strawberries with cream. Do you remember the taste of strawberries?

Frodo: No, Sam. I can't recall the taste of food... nor the sound of water... nor the touch of grass. I'm... naked in the dark, with nothing, no veil... between me... and the wheel of fire! I can see him... with my waking eyes!

Sam: Then let us be rid of it... once and for all! Come on, Mr. Frodo. I can't carry it for you... but I can carry you!

23. O voyeurismo do público ou O cineasta que espia as suas criações



Um dos meus filmes favoritos, é ‘Janela Indiscreta’ de Hitchcock com os protagonistas James Stewart e Grace Kelly.

É uma história simples em que o protagonista está imobilizado depois de um acidente e resolve passar o tempo a espreitar a vida dos vizinhos da janela do seu apartamento.

Apesar de ser um filme antigo, é um filme de eleição, o espectador tem o mesmo ângulo de visão do protagonista.

O escritor e biógrafo do cineasta, Bruno Villien, vai mais longe e afirma: “O voyeurismo do público faz eco ao do criador. É, em princípio, o cineasta que espia as suas criações, faz com que estas sofram, filma-as para deleite dos espectadores.”

[Sugestão e texto de Amélia Ribeiro]